terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Talício fala do amigo vendedor de água

Rapaiz, tem umas história nexa vida que vô ti cuntá.
Arabites, irmão de Andiva, era uma cara pra lá de bão... mas tin-a suas trapaiada. Ele tin-a um imprêgo certo, era funçonáro dessas impresona que tem casa in tudo que é parte do muno. Masundia, sem ninguém sabê purquê, arresolveu pidi as conta. Aí o homi recebeu um di-ê-rin inté bão, mas num dêu pra quase nada!
Dispôs de pagá umas conta, fazê uns mimo pra mulé, cumprá umas bestêra pras fíía, arresorveu invisti o resto do din-ê-ro num depósito de água minerá.
Comprô um galpão, um monte de garrafão de vinte litro, duas bicicreta carguêra, um computadô véi, num sei pra quê e otras buginganga pra pudê cumeçá a trabaiá.
Mas cadê crientela!?
Todo muno na cidadezin-a já tava de custumi de bebê água do açude... as carroça ia lá pegá os tambô de água e o povo da cidade bibia, cuzin-a-va... usavam a água do açude pra tudo, e os garrafão num vendia nada!!
Arabites se prezepô! Ficô amuado e preocupado...
Num dumingo quarqué, dispôis de um sábado que teve uma festança na cidade vizin-a, lá se vin-a todo muno vortano da festa, uns cum sapato nas mão, uns morto de bebum, uns achano graça pras fiía doutros, e naquela gazarra...
Andiva vin-a cum seu namoradin, ela uma coroona de seus quarenta e três, ele com vinte e um... todo muno falava desse ajuntamento...
- Carma pessoá, se vocêis tão cum inveja, ele tem uns ôtros irmãos que tamém tão sortêros, dizia ela pras cumade maldizente...
- O minino era coroin-a, inté mês passado, quano essa, credo-cruiz, dirvirtuô o fií alhêi... - dizia D. Floristildis.
- Num si cumóde não, Tildis, ela inda vai prová o que é bom!!! - respondia D. Gerunda Gerundina.
Lá na festa tin-a ocorrido que Tarraso e Eulâmpio tin-am se agarrado por cause de Eurídes. Impurrão, sapecão no pé do orvido, dedada nos zói, e pur fim, o punhal.
Tarraso rasgô o vento e a camisa de Euylâmpio, que empalideceu, mas rapidamente pegô duma garrafa de cerveja, e ficaro aqueles dois homi sem préstimo briugano pur uma fulana que já tava dando risada pro Floduardo...
Nessa rumação Eulâmpio rasgô o braço de Tarraso, que lhe rasgô a barriga, e quano Eulâmpio is caino, Tarrasco, no ímpeto da fúria, da raiva, da cachaça, do orgulho firido porque Eulâmpio tava bejano aquela que era só de Tarraso, inté onti (isso pensava ele), ele terminô de matar o colega de vila e de tants cantoria...
Sangue, muito sangue nas mão, no chão e no corpo de Eulâmpio que dava uns suspiro inquanto murria... e Tarrasco pos-se a corrê...
Chegaro os home da saúde, com bulância e tudo, mas num tin-a mais jeito...
A festa continuô, e Floduardo vêi conduzino a bela Eurides pra casa...
Como eu falava, naquela main-ã de dumingo, quando o povo vortava pra casa, viru dois corpo de home e um de muié mortos boiano no açude que alimentava a cidade com água limpa e boa...
Tarrasco, Floduardo e Eurides estavam mortos...
Daquele dia em diante, todo muno quiria comprá a água minerá de Arabites, que cumeçô a inricá.
Eu fui na casa dele na sumana passada, pra parabenizá pelo Natár, mas num pude perder a oportunidade de dizê:
- Cara, da proxima vêz mata uns cachorro e bota no açude, num precisava matá gente, não!!