quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

A abdução de Tertuliano



Tertuliano era um jovem devoto. Cristão, católico apostólico romano - se bem que nunca entendi essa de católico romano, uma vez que católico quer dizer universal... mas vamos lá.
Estava ele em suas orações noturnas, quando resolveu dar um passeio... saiu com sua Monark Barra Circular pela noite, passeando e fazendo suas intercessões para que Deus abençoasse os coitados que não conhecem, o caminho: bêbados, meninas que procuram satisfazer sexualmente aos homens que peregrinam na noite, donos de bares "incircuncisos de coração"...
Em seus caminhos, quando percebeu, estava fora dos termos da cidade, subiu um pequeno serrote, e resolveu descer para fazer suas preces de joelho...
Uma, duas, três horas de oração... já são uma e meia da madrugada, e nada de cansaço nem de sono. Quanto mais ele orava, mais lhe vinham motivos para orar... quando o imprevisível lhe surge... sem nenhum som, uma luz lhe chega... um canhão de luz lhe desce dos céus... uma luz branca, como se de um holofote, contudo vem em sentido vertical...
- Meu Deus, que luz é essa! Minhas orações estão sendo ouvidas!!!???
A luz passa de branca para amarela, azul, vermelha, verde, amarela, branca e se repete cada vez em velocidade maior e mais alucinante...
Um som suave e constante, como de um vento, vai tornando-se mais agudo... Tertuliano começa a sentir que está flutuando, ainda de joelhos, vê a terra se afastando e seu corpo levitando, sendo como que atraído pela luz que vai intensificando a cor branca...
Dois, três, quatro, dez, quinze metros de altura... as árvores estão abaixo dele, até aquele grande pé de tamarino, a mangueira... e a luz o envolve de tal forma que não vê nada a não ser luz, muita luz por todos os lados... de repente tudo fica escuro, e ele se percebe de joelhos sobre uma superfície dura...
No escuro, Tertuliano tenta se levantar, temeroso, quando as luzes se acendem e ele vê que está em um ambiente metálico, algumas colunas de metal, alguns controles como de computadores, uma luz suave no ambiente, que não cansa a vista, uma mesa redonda, sem cadeiras ao redor... ele começa a andar em direção à mesa, quando neste momento escuta:
- Xigrilí, bituá xigrí...
Volve-se para trás e vê uma bizarra criatura, cinzenta e nua, com olhos do tamanho de seu punho e cabeça do tamanho de um pneu de caminhão... desmaia.
Tertuliano acordou três dias depois, numa planície do Estado do Mato Grosso, completamente nu... andou algumas centenas de metros até um rancho, escondendo-se roubou um lençol no varal, enrolou-se nele e bateu na porta da casa...
Contou ao dono da fazenda o que acontecera, que disse não ter escutado nada na noite anterior, nem visto nada de estranho no céu... mas como não acreditar que aquele coroinha estivesse falando mentira...
- Cruz, credo, meu Deus! O menino deve de tá falano a verdade...
- Vixe Maria, meu Deus!
Providenciaram que Tertuliano voltasse para sua cidade e para a paróquia em que servia ao padre Nustácio - homem robusto, de seus trinta e cinco anos... já haviam denunciado dele molestar jovens meninas e meninos, contudo nunca conseguiram provar nada, e mesmo na acariação dos fatos, as crianças sempre se contradiziam ou defendiam ao pobre servo de Deus.
Hoje, Tertuliano tem vinta e três anos e ainda conta a mesma história, contudo possui tenebrosos pesadelos de estar sendo violentado por dois homens com batina que o lançam fora do carro em uma planície de um município vizinho.

3 comentários:

Letícia Losekann Coelho disse...

Opa! Tá no sangue a bela escrita...
Adorei!
beijos meus

Mari disse...

Olá,Rui
Claro que Tertuliano não sonhou nem mentiu...já temos visto acontecer,né mesmo?muito bom!

abração

Vênus disse...

Oi,querido
É...abdusido,é? non creo..como tu não crês...
não sei pq não gosto de padres..por que será?

beijão pro cê !
obrigada pela fidelidade dos comentários..vc é DEZ...e um dia eu vou pra o sertão nordestino ..rsrsrs