sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Trio

Quantas coisas passavam na cabeça de Tarcilina que sempre fora uma mulher devassa, saía com rapazes sem se importar com seus nomes, posições sociais ou perfumes. Ela tinha em Gustante um dos amantes preferidos, o primeiro que pensava quando a libido lhe exigia um afogamento de solidão, ou quando as noites frias das serras de Ibiapina lhe cobravam umas orelhas para aquecer seu cobertor.
Gustante era um dos que ela guardava em sua agenda do celular, para eventuais aventuras.
Em uma de suas viagens, Tarcilina conhecera Maurílio, rapaz tímido, daqueles que se apaixona no primeiro beijo. Pobre, honesto, mas se permitia assédios de algumas viúvas em troca de dinheiro para sustentar sua velha mãe adotiva, que era sua avó - sua mãe fugira com um caminhoneiro logo após seu nascimento e nunca mais dera notícias.
Como, a médica e bem sucedida social e financeiramente, Tarcilina lhe dissera que poderia aparecer quando quisesse, Maurílio veio e procurou a mulher que lhe revirara o coração e a mente.
Tarcilina era sempre feliz, envolvida com todos os homens que quisera, sem compromissos, sem cobranças, beijar era esporte, o sexo era um hobbye. Sua vida era bastante alegre e ela sempre se sentia leve, sem pesos que lhe afundassem em si mesma, nem lhe afetassem o humor. Ela só sabia o que era TPM de ouvir os outros falarem.
Contudo, a vinda de Maurílio lhe abalara, porque ela gostava de Maurílio, mas não gostava só dele, gostava também de outros e outros. Sua relação com Gustante, o mais freqüente de todos, e com os demais homens, foi se modificando... ela começou a sentir o peso da relação com Maurílio, que foi tornando-se séria, virou compromisso.
Gustante começou a perceber Tarcilina diferente, mais preocupada, mais nervosa, menos paciente e menos sorridente.
Tarcilina começou a sentir que poderia perder todos os amantes, e isso não a incomodava, ela só não queria perder Gustante, nem Maurílio. Ela entendia que não poderia viver bem com os dois, nem sem um dos dois, este martírio lhe tirava a vida alegre e leve que tinha.
Maurílio, por sua vez, adorava estar com Tarcilina. Sabia-lhe devassa, e isso não o incomodava tanto, ele queria desfrutar de sua companhia, de seu retorno para casa, de sua vida a dois como tinha. Sonhava tê-la só para si, mas aceitava dividir-lhe com outros, contanto que depois das aventuras voltasse para seu colo quente.
Gustante ficou sabendo de Maurílio, no mesmo instante que Maurílio soube de Gustante: Tarcilina marcara com ambos numa lanchonete de um shopping. Escondida, esperava que um e depois que o outro chegassem, sentassem, então ela veio, sentou-se numa terceira mesa e chamou ambos para sentarem com ela.
Tarcilina expôs o que ocorria, os três se olharam meio atônitos e sem entenderem muito ao certo o que acontecia, então o inesperado: grande gargalhada dos três, um estouro de risos eclodiu tão forte que muitos viraram-se para ver o porquê de tanta gargalhada.
Dali, seguiram para o cinema, assistiram uma bela comédia romântica, tomaram mais sorvete e foram para a casa de Tarcilina, onde vivem os três, sem queixas, sem crises, sem ciúmes, na mais inesperada insustentável leveza do ser.

Inspirado em... vocês sabem em quê e de quem, se não sabem precisam ler mais

Um comentário:

Marcos Pontes disse...

Eu nãos ei quem ou o quê, embora conheça um trio assim que vive muito bem sob o mesmo teto.