quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Música sem dó



Eu queria poder escrever o que sinto
neste dia santo-maldito
se me existissem palavras ou rimas
se me existissem idéias ou ideais
se me mostrassem os por-dos-sóis em Marte
e as auroras nascendo por trás das grades
das relações loucas e ambíguas.
Eu diria que eu sou
se eu fosse alguém que me conhecesse,
mas no processo constante de mudança
pergunto ao mes espelho, que não é mágico,
quem eu sou, num quem-eu-sou musicado.
O patético cara de dentro do espelho ri,
me amaldiçoa e abençoa
e goza da minha cara,
porque o que eu queria dizer, não digo,
a platéia que sonho, não existe,
o amor que espero, não vem,
o escuro em que durmo, é dia,
e a solidão que aguardo ter em meu quarto
sempre é povoado
de pessoas vivas e mortas,
presentes e ausentes,
físicas e fantásmicas,
em minhas alucinações não alcoólicas
que tenho ao deitar pra dormir,
mas permaneço acordado.
Eu cantaria uma canção
se a loucura e a lucidez
não me fossem tão claras
neste mundo cinza e preto
das pautas musicais.