sexta-feira, 2 de maio de 2008

Que lógica essa da sociedade!!!



Jorgina casou por amor, e por uma gravidez precoce. Antonildo casou porque tinha o tezão em Jorgina e queria que ela nunca mais desse pra ninguém.
Como o principal tempero pra um casamento estava em falta na cozinha de Jorgina-Antonildo, o respeito, logo começaram as brigas. O cara, morto de ciúmes, não permitia que Jorgina trabalhasse fora de casa, contudo seu soldo de soldado da polícia militar não permitia que tivessem uma vida financeira-econômica-material confortável.
Problemas financeiros + falta de respeito = porrada, muita porrada na coitada da Jorgina.
Durante a gravidez, Antonildo deu-lhe uns sapecões tão violentos que, segundo a Dr.ª Loriette, com dois tês por favor, isto fôra o motivo de Bejami nascer surdo do ouvido esquerdo e com as duas perninhas tortas, tortas como um alicate quebrado.
Antonildo teve uma idéia maravilhosa:
- Vamos morar na casa de minha mãe!
- Mô, a gente aperta um pouco, mas fica numa casa só pra nóis é melhô...
- Eu num perguntei, eu disse! E foram pra casa da mãe dele, sogra dela...
Acho que dona Gerzalina leu todas as revistas pejorativas e piadas sobre sogra, porque fazia valer o título...
Quando Antonildo dava porrada na Jorgina, Gerzalina saia de casa com Bejami pra não ouvir os mau tratos, nem os ais e muito menos os xingamentos:
- Veja dona Claraleusa, a vadia da mulher do meu filho fica chamando ele de viado, de bandido, de Satanás, só porque ele deu umas porrada nela!
- E o que ela fez pra merecer as porradas? ela nem sai de casa!
- Ah, sei lá... mas se meu filhinho bateu, deve ter tido seus motivo...
E assim se passaram dez anos, três filhos, muitos olhos-roxos, muitas costas-roxas, muitos dedos-queimados, muitos tufos-de-cabelos-arrancados, muitos dentes-quebrados, muitos quartos-trancados-por-três-dias-pra-ela-aprender-a-não-pedir-comida-que-não-posso-comprar (um churrasco com baião de dois, de boteco - 4 reais - no dia do aniversário dela!!), mas nem um BO na delegacia da polícia, nem uma visita a médico pra ver os hematomas ou a costela quebrada em sua segunda gravidez, nem o sexo violentado num dia que a puta do cabaré negou-se pra ele porque tava menstruada e ele a amarrou na cama e violentou-lhe o ânus (pô se dizem que dói com consentimento, pensem à força) - Gerzalina no quintal lavava roupa e aumentou o volume do forró que tocava no rádio:
- Esses chôro dessa mulhé me deixam nervosa, prefiro nem ouvir...
Ontem, até agora ninguém sabe o porquê - talvez pelo costume de bater, e cada vez com mais violência, ou teria tentado ver quanto era resistente o crânio de sua ex-posa Jorgina - Antonildo, deu umas pauladas na cabeça de Jorgina, partindo seu crânio, levando-a a óbito imediato.

Casos como esse se vêem todos os dias no Brasil e no mundo todo, independente da classe social, do poder econômico ou do prestígio social, religioso ou político.
Mas o que mais me deixou triste e revoltado, foram os comentários que ouvi:
- eu nem consigo ter pena dela, uma mulher que se deixa apanhar assim, procurava isso (uma professora disse)
- ela fazia era gostar (um comerciante)
- tem gente que precisa levar umas pêia, senão não presta (um servidor público)
- eu bem falei pra minha filha que esse casamento não daria certo (a mãe de Jorgina)
E o que aconteceu com Antonildo? você pode me perguntar.
Só posso lhe dizer que perguntei para diversas pessoas e nenhuma, nem o delegado de polícia, soube me dizer...
Que Deus e todos os anjos protejam vocês Jorginas, contra todos estes Antonildos e Gerzalinas e Claraleusas... porque não se bate nos outros nem com palavra.