segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Um homem de bem

Lá vinha um homem pacato, um pacato cidadão, que de pacato não tinha nada, porém como cidadão... era um exemplo... Um cara daqueles que é um bom exemplo para não ser seguido, ou melhor, para ser seguido, sim, pela Rádio Patrulha, pela Polícia Federal, pela Receita, por um míssil teleguiado, pelo vibrião da cólera e por todas as mazelas que podem assolar uma vida... mas ele era um cara tão safo,que nada lhe impedia de ser quem era. Leocádio se candidatara a vereador aos dezoito anos de idade, mas ele não queria ser eleito (e mesmo que quizesse, não conseguiria essa façanha com facilidade), ele queria mesmo era ter votos para barganhar com o prefeito. Comprou voto, vendeu a mãe, falou mal de deus e do mundo, falou bem de deus e do mundo... subia em carro de feira, andava quilômetros a pé, de casa em casa, porta a porta, beijou menino catarrento, abraçou cachaceiro fedorento, pagou lanche pra garoto gordo, comprou camisa de time de várzea... ah, e dentaduras, exames de fezes, cvarro pra levar gente pro horpital, caixão de defunto, contas intermináveis de luz pra caloteiros, botijões de gás às dezenas... mas não foi eleito: só teve dois votos! O nobre cidadão até hoje, com seus 78 anos de idade se pergunta: de quem eram aqueles dois votos?