sábado, 1 de março de 2008

A maioria dos blogueiros se sente feliz ao receber comentários... faz-nos bem saber que somos lidos, faz-nos bem saber que nossas idéias são passadas aos outros, mas nos afaga um pouco a vaidade recebermos comentários, mesmo críticos, porque nos auxiliam a melhorar os conteúdos das postagens e a refletirmos sobre opiniões que colocamos... assim, se querem fazer um blogueiro feliz: comentem as postagens deles...

Diferenças Lingüísticas Regionais

Devido a imensidão que é o Brasil, a enorme miscigenação entre todas as etnias humanas (sempre lembrando que a raça é humana, as diferenças são étnicas) e as influências das diversas culturas mundiais que se aglomeram em todas as partes de nosso país, a Língua Portuguesa no Brasil possui características lingüísticas bem próprias de cada região geográfica, de cada estado da federação, de cada município dos estados, e muitas vezes até de cada distrito, bairro ou localidade dos municípios.
Vejam vocês, meus queridos visitantes, como estas mudanças podem nos aprontar passagens que nunca esqueceremos:
Quando cheguei no Nordeste, mais precisamente no Ceará, fomos convidados por uma grande amiga de minha mãe, que fôra sua amiga na infância e adolescência, para comermos uma galinha à cabidela (no resto do Brasil, esta receita é conhecida como Galinha ao Molho Pardo). Fomos bem recebidos por D. Marilucelene e família. Nos fartamos com aquela deliciosa galinha-pé-duro (galinha caipira, galinha que não é criada em granja, mas em galinheiros domésticos ou quintais), cozida com manteiga da terra (nome dado à manteiga feita em casa, usando leite, após retirado o sôro, cozido e batido - em outras regiões a chamam manteiga de garrafa, manteiga de casa).
Ao terminar o almoço, D Marilucene chamou sua filha Ardelaidina:
- Ardelaidina, vai rebolar esses ossos no terreiro, pro Ogun!
Ardelaidina veio, pegou o resto de comida dos pratos e separou os ossos, colocou em uma bandeja de alumínio e saiu pro terreiro, aí, pronto, viajei...
Imaginei Ardelaidina, com seu metro e sessenta e sua pele morena, num mais deslumbrante e legítimo balé afro-religioso, com um turbante na cabeça, rebolando ao som dos atabaques e bater de palmas, com a bandeja de ossos na mão... arrodeando uma imagem de Ogun (que no sincretismo religioso é Sao Jorge - o Santo Guerreiro e Orixá da Guerra).
Essa cena eu não poderia perder, saí da cozinha de D. Marlucelene, fui pelo quintal brechando (espiando) Ardelaidina, que no seu andar descontrído simplesmente jogou os ossos no chão, e veio um enorme pastor alemão negro comer os ossos e o resto das carnes da penosa a pouco degustada.
Meses mais tarde fiquei sabendo que: os dois cães de D. Marluce se chamavam Ogun e São Jorge; que, no Ceará, rebolar significa jogar fora, e não requebrar; e que terreiro, nas terras alencarinas, refere-se a qualquer pátio, aos arredores da casa, que seja de chão batido, como os quintais.