sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Amor - e os dois serão um

"Amaram o amor urgente, as bocas salgadas pela maresia, as costas lanhadas pela tempestade... amaram o amor serenado das noturnas praias, levantavam as saias e se enluaravam de felicidade... amavam o amor proibido, pois hoje é sabido, todo o mundo conta..." (Mar e Lua - Chico Buarque)
A proibição feroz da mãe dele, os perseguia, e ele sabia que ela o mataria se pudesse, mesmo assim fugiam para se encontrar... no mar, nas grutas e cavernas, no meio ao milharal... ele a levava aos ares, flutuava entre as nuvens enquanto sua mãe não chegava...
A pequena aldeia que ela morava temia a fúria da sogra poderosa - arrasaria as lavouras e todas as pragas que pudesse vingariam violentamente sobre aquela gente tão pobre e tão mortais.
Ele era o símbolo da perfeição masculina humana; ela, a beleza e perspicácia feminina personificadas... quando se viam seus olhos ardiam de paixão e libido, suas mãos suavam perfume e seus sexos se desejavam sempre e mais...
O dia amanheceu meio nublado, como é comum no Mediterrâneo naquela época do ano, o casal de amantes se encontraram nas cavernas ao sul de Chipre, enroscaram suas pernas e num ardente beijo se despiram... ele a conduziu no braço, num abraço, às nuvens, subiram e se esconderam entre as densas nuvens-chumbo que se precipitariam sobre as lavouras, trazendo prazer aos agricultores e pastores... abraçou-o com suas pernas brancas e lisas e sentia seus sexos se afagarem, se penetrarem, se amarem... rodopiavam no ar...
Ah... tanto ardor, tanta felicidade, tanto medo... a sua sapiência divina percebeu a aproximação de sua mãe... ela vem furiosa à procura do filho - esse ingrato que se envolve com qualquer uma...
Mas ela não era qualquer uma... era a mais bela, mais meiga, mais gentil, menos dissimulada e mais perfeita criatura nascida de um ventre humano...
O medo, o amor, o desejo fizeram com que se abraçassem mais e com mais intensidade apertando-se, entranhando-se, tornando-se um só...
Num assaz que somente a divindade permite, Hermes e Afrodite se fundem num só corpo, indissolúvel, inseparável, uno - tornam-se uma só critura, hermafrodita, criando no Olimpo e na Grécia o primeiro ser que traz em si os dois sexos.