sábado, 23 de fevereiro de 2008

Excluídos Sociais

Quando penso no termo excluídos socialmente, não posso deixar de pensar quando surgiu, em meados da década de 1980, no auge da implantação da verborragia da mundialização e da globalização, sistemas identificados pelos governos como formas de pensar-se no Estado-mínimo, racionalização fiscal e eficiência do Estado (não confundir eficiência com eficácia). Isso me faz pensar que não existem os tais excluídos sociais. O que existem são os excluídos ou impedidos a acessos aos meios de comunicação, aos serviços públicos e a condições ideais de vida, alimentação, educação, etc? Na sociedade o que chamamos de excluídos são, na verdade, os marginalizados. Não são excluídos da sociedade, uma vez que estão na sociedade e têm inclusive, seu papel definido. Os milhões de pessoas que vivem abaixo da chamada linha da miséria servem como alicerces dos discursos. Os governos do mundo todo, e os pretendentes a assumir estes governos, se valem destes que vivem à margem da dignidade humana quando querem mostrar projetos e programas para erradicar a pobreza e a miséria. Valem-se das imagens das diversas etiópias existentes para discursarem que são sensíveis aos problemas sociais e que possuem fórmulas mágicas para solucionar todas essas mazelas. Os que não têm emprego, nem estudo, nem fonte alguma de renda, que foram gentilmente (eufemisticamente) batizados de excluídos, para não chamar indigentes, têm até uma função ideológica. Imagine a pirâmide social, mundialmente conhecida. Nela vemos as classes divididas em extratos bem claros e definidos, e isso nos dá uma noção de muita gente, porque são intitulados “classe social”. Se àqueles que estão completamente à margem dos sistemas, que não são reconhecidos como cidadãos, por serem tão pobres e tão sem expressão, sem quem os veja e principalmente os defenda, forem tratados como uma classe social dar-se-á a idéia de muita gente, então fala-se em excluídos, como que falando de indivíduos, pontual e particularmente, atribuindo a condição de marginalidade a sujeitos, enquanto que se falar que existe a classe dos marginalizados, se estará dando a noção de população. Os programas televisivos que dão prêmios a gente "menos afortunada", que pagam suas dívidas, que reformam suas casas e carros, que dão prêmios milionários para uma pessoa, mostram à população a miséria daquela pessoa, como se fosse um naquele estado... não se preocupam em mostrar que o problema é muito, mas muito maior mesmo e que milhares, senão milhões, de pessoas vivem em condições sub-humanas. Negam a existência dessas pessoas, enquanto grupo ou classe social. Como aos governantes não interessa as informações de muitos descamisados, sem-teto, sem casa, indigentes e marginalizados de uma forma geral, utiliza-se os títulos de excluídos, contudo sempre que posso conclamo aos meus alunos de Filosofia e amigos em geral que observemos a linguagem dos governos para termos real certeza do que está por trás dela. Nós que temos computadores em casa, acesso à Internet, cama pra dormir, almoço e janta todos os dias deveríamos ohar um pouco mais para os que não têm. Já perceberam como seu lixo é rico de produtos alimentícios? Já vi pão, no lixo. Pão, que pode ser aproveitado na íntegra como torrada, farinha de rosca para milanesa... Já percebeu que o que sobra em sua panela e vai pro lixo, daria para encher uma ou duas quentinhas, que você poderia, no caminho do trabalho, dar para aqueles meninos que ficam no sinal, ou àqueles que sentam sob os bancos das praças na qual você passa todos os dias e finge que não vê! Quem tem e não distribui está negando seu papel humano de ser-humano. Mas muitas vezes ficamos tão medrosos destes pobres e coitados que nada fazemos para alimentar um pouco sua auto-estima e seu estômago. Não devemos esperar por um milagre social, se queremos que acabem-se os mendigos, se queremos que o Brasil seja socialmente comparado a uma Suíça, devemos cada um de nós fazermos nosso papel de humanizador, divulgar para amigos e inimigos o que podem fazer, sem sermos chatos, só fazendo, sem querer trocas, mas por sabermos que eles são seres humanos, com almas, sonhos, sentimentos, dores e alegrias como nós. Não, não existem excluídos sociais, existem, sim, e muitos, aqueles que nós marginalizamos por nossos egoísmos e preconceitos.

Santa Vingança



- Seu nome, por favor!
- Josinaldo Divanildo Gomes Cavalcante Sousa Cintra Coelho.
- E o seu...
- Adelaide Ermenegilda da Silva Pinto Cavalcante Sousa Cintra Coelho.
- O seu...
- Edmilson Florisbaldo Aparecido Loiola (com i) Brandão Júnior.
- O que aconteceu?
- Blá, blá, blá,... blé, blé, blé,... bló, bló,bló...
- Calma, um de cada vez... Quem começa?
- Eu, doutor...
- Aos quinze anos de idade eu namorei o Edmilson Florisbaldo...
- Sim...
- Mas eu sempre fui casta, evangélica, queria casar-me virgem, doutor. Afinal, fornicação não agrada a Deus!
- Você está registrando tudo dona Robertilda?
- An rãn...
- Continue...
- Nunca tivemos nada a não ser beijos e abraços... até que um dia ele ficou... bem... ele...
- Bem, ele ficou muito excitado e... ái, doutor, tô com vergonha!
- Continue dona Adelaide Ermenegilda!
- Bem, ele pediu pra eu pegar no seu... você sabe, senhor.
- Registre aí, Robertilda, que aos 15 anos de idade o senhor Edmilson pediu que ela pegasse o XXX dele, não coloque o pênis. E aí, dona Adelaide Ermenegilda?
- Aí acabamos o namoro, fui pra casa enojada dele.
- E o que isso tem a ver com o fato que ocorreu hoje em sua casa.
- Doutor, depois fiquei sem namorar, até meus vinte anos. Foi quando conheci o Josinaldo Divanildo.
- Começamos o namoro, com um ano nos casamos.
- Hoje, temos vinte e três anos de casados, graças a Deus! Somos evangélicos esse tempo todo. Mas você sabe como é... montamos um cyber lá em casa. Aí criei e-mail, pra mim, entrei no orkut e tudo...
- Um dia, vi uma mensagem do Edmilson no meu orkut, pedindo pra eu adicioná-lo... eu fiz isso. Esse foi meu erro. Porque daí em diante ele começou a me incomodar com mansagens, descobriu meu e-mail e telefone, acho que através de irmãos da igreja, que são meus amigos no orkut. E começou a me perseguir, telefonar, mandar mensagens e tudo... tudo muito erótico, doutor. Contei pro meu marido, mas ele pensou que não fosse dar em nada, afinal ele me conhece.
- Hoje ganho um dinheirinho bom fazendo meus trabalhos via internet, doutor. Faço sites, configuro blogs, monto mensagens, dou manutenção on-line em arquivos... e ele, o Edmilson é hacker, entrou no meu computador, fez muitas coisas erradas, usando senhas minhas e meus cadastros... como o senhor pode verificar através destes documentos que mostram o endereço físico onde ficam os IPs das máquinas que fizeram os saques, as transferências e os aliciamentos, e as comprovações dos hotéis em João Pessoa, onde eu estava, nos dias em que os crimes foram cometidos.
- Assim, doutor, o senhor pode liberar minha esposa e eu, não?!
Passados alguns minutos, Josinaldo Divanildo e sua mulher Adelaide Ermenegilda são liberados, saem do prédio da Polícia Federal, ao entrarem no carro:
- Meu amor, a justiça divina não falha... esse cara abusou sexualmente de minha irmã de catorze anos...
- Áh, foi ele, querido?
- Foi, e o estupro levou ela a ter sérias perturbações de sono, pesadelos,´até que não aguentou mais e suicidou-se...
- É, Deus tem seus caminhos, mas não deixa impune os malfeitores. Eu só não sei uma coisa, quem foi que deu meu telefone e e-mail pra ele...
- Bem que eu queria saber, meu bem - disse Josinaldo Divanildo.
Ao chegar em casa, Josinaldo liga para seu pai:
- Pai, deu tudo certo. Eu sabia que o senhor ter um e-mail com o nome de um japonês um dia iria ser útil... agora aquele canalha está preso e nossa menina vingada.