domingo, 7 de junho de 2009

Talício fala da mulher de cabelo ruivo

Arre égua, esse Ótimos me dexô um tempão sem falá cum vocês... já mudô tanta côsa no muno e eu aqui sem tê pra quem contá minhas aventura.
Isso me lembra o tempo que fui pra guerra... uma peleja que teve lá pras pradaria do sul, quano uns cabra quiria que o estado do Rio Grande se sórtasse do Brasil... ficamo cum medo que eles virasse argentino, e num deixemo...
Me alembro muito bem de uma galega de cabelo vermei que namorava com o capitão da min-a compania. Mulé bunita que fazia umas cumida gostosa de cumê.
Uma vez ela foi prum rio pegá água, quano uns farropilha chegaro pra ela tentano faze medo, ela num si intimidô, não... logo fez cara de boa moça e mandô que Gido, um neguinho que acompanhava ela pra todo canto, vortasse pro acampamento pedi socorro...
O neguin correu mais que fofoca em feira, aí ela falô macio pros home que num abusasse dela, não, e que num machucasse, purquê ela nunca tin-a sido de nin-um home.
Ora, isso foi o mesmo que tocá fogo nos rapaz.
O sargento logo se adiantô e dixe que alí só tin-a um home que a merecia, e mandô todo muno vortá pra trás... ela se fez de boazinha e quano o cabra arriô as carça, ela infiô um punhá que o Capitão Lorenço tin-a dado pra ela bem no meio da côxa do cabra, e quano mais ela infiava, mais ela ripitia:
- Só sô mulé de quem eu quizé, só sô mulé de quem eu quizé, só sô mulé de quem...
O cabo froxo cumeço a chorá de dô, nisso nós cheguemo, levamo o cabra preso.
Mais tarde, quano acabô a guerra ela casô com o capitão.
Como ela dizia que só seria mulé pra quem ela merma quizésse, nos tempo de paz ela alimentou um sargento, dois rectuta, um majó, um coroné e o leitêro.
O capitão morreu feliz aos 84 anos, achano que sua mulé de cabelo ruivo nunca tin-a sido dôtro homi.
Foi feliz o capitão, afinal corno não é quem é traído, mas quem sabe da traição.