segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Latrocínio

Aldegundes se sentia preterido a Alan. Gêmeos, sempre ouvira falar que Alan era mais forte, que Alan era mais bonito, que Alan era isso... que Alan era aquilo... Ressentido, Aldegundes resolveu acabar com essa história da preferência familiar, pelo belo, forte, inteligente, rápido, organizado, amigo, respeitador, blá, blá, blá, blá, Alan. Aos dez anos, atropelou Alan com sua monaretazinha azul, tinha certeza que sua bicicleta era uma grande motocicleta e que Alan não escaparia... muitas cipoadas depois, corpo cansado e quente de tanto apanhar, Aldegundes dormiu. Amanhã... amanhã eu pego ele... - Alan vamos brincar de Zorro? Sobem no telhado, quando sua mãe foi à padaria, lá de cima, despenca Alan, que cai no toldo da área de serviço, rola até uma espirradeira, cujos galhos envergam lentamente, trazendo Alan, confortavelmente ao chão... Amanhã, amanhã eu consigo... - Alan, vamos brincar de circo? Aldegundes lança as facas, Alan está no alvo... Fiishshs a faca voa, fchut, enfia na táboa... Fiishshs a faca voa, plaft, bate no peito de Alan, de lado... Fiishshs a faca voa, tooc, o cabo bate na cabeça de Alan... Alan chora... Aldegundes apanha de sua mãe mais uma vez... Amanhã... amanhã... E assim, depois de muitos amanhãs frustrados, como o tempo não permite que fiquemos crianças sempre, Aldegundes e Alan resolveram crescer... Adolescência ruim a de Aldegundes querendo matar seu irmão, Adolescencia ruim a de Alan, tentando não morrer por Aldegundes... Chega a vida adulta. Aldegundes cansado de tanta frustração, resolve fazer terapia... e percebe que seu amor por Alan é um amor que ele tem por si mesmo... e passa a orgulhar-se do irmão que tem, que sempre se orgulhara de ter Aldegundes como irmão. A vida adulta é boa, até que resolve fazer um passeio no campo. Sobem a pedra mais alta da serra, fotografam tudo... De la´, vão a uma represa e a uma ponte que ligava os oicos de dois montes. Enquanto Aldegundes para à direita da ponte para fotografar o por do sol, Alan foi ao lado esquerdo, nesse momento Aldegundes ouve Alan gritando, olha para trás e não vê mais o irmão... corre para a sacada da ponte e só vê uma grande quantidade de nuvens abaixo daquela enorme ponte de quase 400 metros, ouve a voz cada vez mais distante de Alan. Até que sumiu todo ruído. Desesperado, Aldegundes pensa logo que vão culpá-lo, pois passou a vida tentando matar seu irmão... Via sua mãe, seu pai, seus amigos, o jornal noticiando o latrocínio, os colegas de cela... Sem se conter, faz um bilhete de suicídio e se inocentando pela queda do irmão e sobe no peitoril da ponte pala pular. Seu celular toca, ele atende: - Alde, sou eu Alan... - A... Alan... como? - Eu te disse que essa ponte era ótima pra bungee jump...

Nenhum comentário: