quarta-feira, 5 de março de 2008

Talício no mercado


Hôme, vô lhe contá uma côsa que vivi nos meu tempo de minino. Eu sempre fui arrediio, num gostava muito desse negóço de ficá em casa, sem fazê nada... sempre tin-a que fazê arguma côsa...
Eu divia tê uns deiz a doze anos. Queria um din-êriin pra gastá na quermesse que ia começá na ôtra semana. Fui até o mercado pra tentá levá umas caxas pros lojista... isso tudo iscundido de meu pai, que era muito severo e num queria fíí seu em malandrage.
Mas ninguem quiria me dá sirviço, ô porque eu era muito pequeno ô porque todo mundo cunhecia a raiva di meu pai...
Aí eu ficava lá de prosa besta, deitado numas sacas de batata... rindo do que os home falava... aprendeno a sê besta, e a num sê besta tumém.
Um dia chegô na fêra o Dr. Juiz - adevogado ilustre de Furtaleza, ele feiz umas compra, a mulher tumém... foi muita côsa que compraro, e na hora de pagá caiu um din-êrin de sua cartêra de côro, munita que dava gosto de vê.
Vi o pessoal colocano as compra e o din-êro do home, tava lá no chão... eu num sabia direito o que fazê, até que vi Pedrin Moleque Magro, um branquela que era conhecido por robá as coisa, de olho no din-êro...
Ele bilava o di^n-êro de lá, eu de cá... me antecipei a ele, fui peguei o din-êro:
- Dotô Juiz, esse din-êro que caiu no chão num é seu, não?
- Ãh! Sim, é, obrigado menino... ele pegô o din-êro, contou e dixe, "fique pra você, não porque o achado não é roubado, mas porque você foi honesto em devolvê-lo a mim"...
Fiquei besta com aquela din-erama toda, aí paguei pastel com caldo de cana pra todo mundo lá do mercado, até o Pedrin comeu tumém.

3 comentários:

Letícia Losekann Coelho disse...

Adorei! Não consigo escrever assim, admiro quem consegue!!! Está lindo!!
beijos

Amigao disse...

Boa amigão. Gostei mesmo. Que sorte teve este menino de começar pelo lado certo, né?

abração do amigao

Anônimo disse...

muito bom.Diadorim?Quimaraes Rosa ia gostar.Conhecendo o seu espaço e gostando.