segunda-feira, 28 de abril de 2008

Placebo

Mirlanda e Beirinha eram amigas inseparáveis, mas não eram em nada parecidas. Nem física, nem intelectual, nem emocionalmente. Uma loira, outra negra; uma gorda e alta, outra magra e baixinha; uma hiper-triper-mega-agitada, oura zeeeennnn; uma bem humorada, utra colérica; uma tinha a maior facilidade com números, letras. idiomas, datas, geografia e história a outra era uma negação em todas as disciplinas... mas eram muito amigas.
Chegou a época das provas colegiais, e Beirinha precisava tirar notas muito boas em todas as disciplinas para poder passar de ano.
Beirinha era muito indiciplinada. Não gostava de assistir aulas, muito menos de estudar, não se preocupava em acordar cedo, nem em ajudar nas mínimas tarefas domésticas, mas namorar era com ela mesma.
Aos treze anos começou a fumar e a beber, e agora, aos dezessete, já era bem viciadinha nestes prazeres. Mas estava precisando desesperadamente ser mais responsável, as provas da escola e o vestibular estavam às portas, se ela não passasse seus pais lhe imporiam severo castigo. Resolveu, então pedir, mais uma vez, ajuda de Mirlanda.
Mirlanda gastou doses elefânticas de paciência para tentar explicar à sua amiga todos os meandros da química orgânica, da genética e de eletricidade, além dos mistérios do círculo trigonométrico... queimaram as pestanas por noites, e tardes e manhãs...
Estudaram tanto que Beirinha já estava começando a compreender todas aquelas coisas que em seus dezessete anos nunca conseguira compreender...
- Olhe, minha amiga, pense que a falta de conhecimento é um vírus, que vai se instalando na cabeça da gente e quando a gente se dá conta não sabemos de mais nada, não crescemos na vida, não somos ninguém, a não ser uma doente na cidade. Quando a gente se esforça e aprende algo e gostamos de aprender, este gosto funciona como uma vacina e a aprendizagem como um remédio, que vai acabando com a donça da burrice e da ignorância, então seremos pessoas socialmente saudáveis. Por isso, esforce-se, para que você tenha saúde...
- Pois vou tomar este remédio!
Chegou a semana das provas... porém... no domingo Beirinha tomou todas e mais algumas no bar, saiu, dançou, bebeu mais.... e na segunda-feira foi pro colégio com a maior dor de cabeça que já sentira, então nas provas... chumbo, chumbo, chumbo, chumbo chumbo...
Hoje, Berinha vivi vendendo batatinhas fritas numa esquina e às vezes lembra do conselho que Mirlanda lhe deu e ela nunca abraçou:
O conhecimento é como um remédio...
Pra Berinha foi só placebo, parecia que faria efeito, mas em nada influenciou, em nada mudou sua vida.

3 comentários:

Mari disse...

Oi,amigão
Belo texto em favor do esforço a fim de adquirir-se conhecimneto.

É isso aí,a maioria que reclama que não "teve sorte na vida" não passa de uma Beirinha da vida...
abração

Rui Carlo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Vênus disse...

E quem disse que alguém pode colocar alguma coisa na cabeça de quem não quer??
Mas,depois acaba sobrando para quem estudou,se formou ..nós é que pagamos o pato..

beijão