Ando meiassim seim sabê onde ficá,
num sei se vorto pra casa
num sei se me poin-o a vuá...
num sei pra quê tanta istrada
que leva a nin-um lugá
num sei pra quê tanta gente
pra gente num con-in-ecê
nem pra quê tanta lágrima pra gente nunca chorá...
Ando meiassim cun vontade de ficá
bein quietin drento de mim
que é pra eu num minspantá
cuas coisa que vô vê naquele ôtro arraiá
qui se chama de cidade
e que leva a gente toda
a tê
baita vontade de vortá.
Queruma vida quieta
sem asfarto, treim ou moto,
que num veja ôinbus nin-úm
nem vião, nem o zocrópto...
quero vê o sol nascendo por trás do jacarandá
e de noitin-a siscondeno no fundo do lago, lááá
onde pego meus peixin prum armoço de fartá...
quero orvi o vento mexeno as fôia do coqueirá
o chêro gostoso dos bicho lá drento do véi currá
e aquele bolo-di-míi gostoso só de pensá
cum um cafézin moído no arpendre do quintá...
Ah como quero o balançá da rede cu-uns grilo a grigrilá,
veno as maripôsa anunciando o chuvará
e senti os braço gostoso da pessoa mais ispiciá
vino divagar, meloso, abraçá, beijá, niná
como se eu fosse criança
pra do seu cólo quentin-o eu nunca me afastá!
- II -
Êta prédio disgracêra onde fui me arranchá,
aqui só só un-as tranquêra, nem nome tein-o nesse lugá
só me chamum de caipira
olham pra mim de soslái
mas quano viajum de féria e vêin pro meu rincão
são ricibido bunito, cum riso, cumida e prazer
purque cada um nessa terra só dá o que tem in ocê...
Êta disgraça dusinferno
aqui é tudo disgraça,
gente cumeno gente numa ambição taman-i-a
quinté parece os jacaré atacano garça cum fome,
o egoísmo aqui reina
e em tudo que é grande cidade
só olham prus-seus-zumbigo
e sisquecem que são gente
neste mundo disgraçado.
- III -
Áh que saudade que eu tenho
das noite no arraiá,
das quermesse, das novena, das prosa, das carçada,
dos riso sem cumpromisso
das moça ino e vino, dos rapáiz só a zói-á
e dos pai das moça de longe
veno quem vai singraçá...
da vida simples que um dia Bandeira achô de chamá
de "vida besta", mas gostosa no meio dos laranja...
a vida lenta e cherosa
dos tempo que num vai vortá
mas que nunca foissimbora
purque de tudo o que há
pra min-a mente cabôca
pudê se alembrá,
é dessa vida simpres dos cumpade
das amizade
dos respeito e divisão
que eu gosto de pensá.
Ai que sardade taman-in-a
será vô vivê pra um dia
essa sardade matá?
Ô essa sardade um dia
me mata de tanto chorá!
- IV -
E a lua carinhosa, desceu um pouco esta noite
e calma, risonha e marota deixou um anjo apear
que veio devagarinho, à esteira de talício
e deu-lhe um beijo na testa enquanto ele dormia...
ele sonhou caprichoso que um dia voltaria pra casa
e o anjo levou o velho
pra visitar todas as terras e rever as pessoas
só para lhe consolar...
e a viola caiu do cólo,
a baba caiu da boca,
o corpo caiu na esteira
devido tanta canseira.
E quando talício acordou
via-se de novo menino
alegre, traquino e feliz,
juntou seus panos de bunda
e disse:
- V -
Não me confunda ó cidade,
tá na hora d'eu vortá
pro lugar em que deixei o meu coração,
a terra natá,
obrigado São Paulo, Rio de Janeiro e Manaus,
obrigado Belo-Horizonte, Fortaleza e Natal,
Florianópolis, Porto-Alegre, Brasília,
Aracaju e Recife, Macapá e Porto-Velho,
Rio Branco e Boa Vista,
Palmas e Cuiabá,
estô grato a ti também Vitória e Salvador,
Goiânia, Manaus, Curitiba, João Pessoa, Maceió,
Campo Grande, Teresina e meu gostoso São Luis,
por receber todo dia
milhões de Talícios que vêem de todo lugar
dividino o coração ao mêi,
e cum essas viage tôda aprendi uma côsa
que levo no peito guardado
e pra todo mundo insino:
viver é nosso distino, e se gostamos dum lugar
mais que de ôtro é disatino
purquê o certo é saber que somo cidadão du mundo
somo cosmopolita
e im tudo lugar que habita
um ser humano, intão,
é lugar pra si amá
e a todos respeitá,
purque nossa terrin-a tumém
tá recebeno gente nexe exato momento
que vem de longe.
7 comentários:
Oi,querido
Creio que vc se inspirou em mim,pois juro a vc: "Ando meiassim seim sabê onde ficá,
num sei se vorto pra casa
num sei se me poin-o a vuá"...
Acabo voltando para POA...de onde saí cheia de ilusões !!!
Beijocas
Fala,Ruizão
Voltei à Blogosfera...com novo endereço..é só clicar no meu nome neste comentário que vai chegar lá...
Tanbém ando meiassim....por isso resolvi voltar...
Gostei do post..
abração
Amigos, Deus e Exagerado, estamos num turbilhão tão grande, com tantas expectativas e faltas de perspectivas que é normal ficar meiassim... o Talício é um cara mei-vivido
Olá,Rui(Talício)
Vc está certo quando diz que "somo cidadão du mundo"...
Mas,ficar "bemquetim" dentro da gente mesmo ainda é o melhor lugar...
Gostei muito do poema do Talício que sabe das coisas...
Beijão
oi,amigo
Este Talício é um indeciso,sabia?Precisa sentar lá no meu divã,para se decidir logo...rsrrssr
Sabe,adoro o dialeto dele..
abração
nossa, estar meiassim é legal as vezes!! só não pode durar muito né!! senão a vida passa e já era!!
até.
Linda a poesia Rui...
gostei :)
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