Mer Deus do céu... a gente vê cada côsa nexe mundo chegaté sinspanta. E óia que eu num sô homi di-mi-sispantá cum quarqué côsa! Sô macho e num têin-o medo de sombração, vizage, arma-dôtro-mundo nem fera feroz.
Na década dos setenta, fui chamado por Ambrógilo pra currida do ôro in Serra Pelada. Num contêi cunversa, se mandamo uns quinze home lá de nosso véi rincão natal pras banda do Pará.
No camin, subiru mais de vinte na geringonça daquele camin-ão, nós tudo com aquele zói faiscano com vontade de achá ôro, preda priciosa, e vortá rico - fazena, gado, cumida boa era o que a gente sabia que ía tê quano vortasse pra casa.
Cada um deu um xêro in sua maria, in sua rosa, in seus barrigudin e fumu tentá a sorte.
Cinco anus infeliz, passei naquela terra isquicida por Nosso Sin-ô. Passamo fome, febre, chuva e inxurrada, Vimo colegas nosso morreno nos dislizamento de terra, ôtros seno esfaqueado por causa de uma pedrinha-merda-de-ôro... a gente ali num valia nada, a gente era só um monte de furmiga-humana no maió furmiguêro da terra.
Lá num pudia tê mulé, que era pra gente num se matá pelos carin-o das moça-dama; bibida tumém era proibido, mas agente sempre arrumava um jêto de tomá umas pinga.
Um dia de sábado, 14 do mês, amain-e-ceu morto, todo rasgado e arranhado, o Jorgino, capataz de seu Renilôncio (o home que nos dava mercúro, ferramenta e ôtras burundanga pra gente pagá quano achasse ôro).
Jorgino tava tôdo arrain-a-do de zunha: "é uma fera da mata", logo todo mundo sabia. De noite a gente inscutô uns cachorro uivano pra lua redondazona, mas num ligamo. No domingo de main-ã, incontramo Sergiovam todo rasgado, ingual Jorgino. Sergiovam era quem trazia pinga pra nóis...
Mas como tin-a chuvido de noite, a gente viu umas pegada instrân-ia, paricia de home, paricia de bicho...
"- Ai meu-deus-do-céu-minha-nossa-sin-óra, só pode ser lubizome!!" Gritô assustado Leocádio, uma home-mulé que namorava cuns servergonin de Caicó.
Cumeçô o ribuliço, o dixe-me-dixe, o pânico - di noite ninguém durmiu, cum medo e insperano o tár do lobizome aparicê. Ele num vêio, mais na seguna de main-a cedo incontraru quatro corpo, dos Andrade de Sousa, que vieru de Mato-Grosso nas primêra leva de gente.
A puliça já num sabia o que fazê, já tavum pensano im fechá o garimpo - todo mundo era suspeito, e todo mundo tava cum medo de sê a próxima vítima.
Naquela noite de segunda pra terça fêra eu durmi na cidade, e quano vin-a na terça de main-â-zin-a pro garimpo, de longe avistêi um cabra tirano uns sapato instranho que tin-a uma garra de fora da butina pra dexá marca de pé de fera - num cuntei cunversa, arrudiei por distrás do fin-duma-égua e dei-lhe uma paulada cum tanta força que a tóra se quebrô, o cabra ficô mei zonzo e eu fiquei morto de sustado, ele num caiu, se disincurvô e ficô di pé.
Nunca vi um cabra tão alto, nem com um tronco tão forte. Ele me agarrô pelas camisa que me tirô do chão, eu puxei minha faquin-a e rasguei a camisa na frente soltano os butão e eu caindo pela camisa, dexano a camisa na mão dele... quano eu caí infiei a faca no pé dele, que varô e fincô-se no chão.
Lembrei de uma história que meu véi pai tin-a me contado de um tár de Aquiles e passei as faca nos carcanha do bichão que caiu sobre mim gritando de dô.
Nixo, uns cabra viero e me socorrero, levamo o home amarrado.
Na hora do armoço foi que o zocrópto da puliça chegô e levô o gigantão e eu pro hospitár... o quabra me quebrô dua custela quano caiu de sobre de mim...Quano a gente avuava por sobre aquele furmigueral de gente que era a Serra Pelada, eu vi como a gente dá pôco valô pra nossa própria vida - lebrei de minha Veroguisberta, dos meu buchin de verme que eu tin-a em casa, de min-as pranta, da cachaça prosêra nus fim de tarde, no vento frii que faiz in cima da serra, da carma e da tranquilidade que é arma uma rede e deitá no cólo da mulé que eu amava...
Vortêi pra casa cum duas certeza, qui lobisomem num exeste, mas sim homi-lobo; e qui num teim lugar mais mió que aquele em que a gente tem paz.
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